O beijo entre o rio e a margem

 

O beijo entre o rio e a margem

Uma das maravilhas dos períodos de retrogradação de Mercúrio é termos oportunidade de ver sob melhor luz o que já tinha sido visto de relance e assim poder captar níveis mais profundos ou subtis da informação disponível. Às vezes melhor luz é menos luz. Um pouco menos de luz e revelam-se formas que já lá estavam mas que não se percebiam antes.

Ontem, durante uma caminhada num percurso algures no Douro interior, ao atravessar uma ponte de madeira sobre um pequeno rio, perdi-me no tempo a contemplar as cores e os brilhos da paisagem. Tirei muitas, muitas fotos na tentativa (inglória) de captar o que de indescritível os meus olhos ali “viam”. Mas o que realmente me fascinava não era visual, era o que me chegava ao nariz. Se alguém já tivesse inventado a “máquina fotográfica” dos cheiros, eu tê-la-ia usado furiosamente para captar muitos instantâneos daquele momento porque, ali, cheirava nitidamente ao aroma da paixão.

Naquele ar, naquela terra, naquela água havia um fogo especial: paixão – aroma inequívoco e bom de se cheirar. A impressão daquele lugar era simultaneamente tão sensual e poderosa que podia ter acabado o percurso ali mesmo que já iria feliz para casa.

Continuamos alguns quilómetros mais e ao fazer o caminho de regresso passamos novamente na ponte. Como o sol já ia um pouco mais baixo, aquele cenário estava agora à sombra; as cores antes tão vibrantes empalideceram e deram lugar a outros contrastes e espelhos… mas o aroma a paixão era o mesmo ou até mais forte! Pensei: “Vou tirar aqui só mais uma foto para ver mais tarde a diferença” . Liguei a máquina e foi então que o Mercúrio retrógrado em Peixes nos céus (e dentro de mim) fez a sua magia: No ecrã, um palmo à frente do nariz, um óbvio e surpreendente BEIJO entre o rio e a margem.

O beijo entre o rio e a margem já lá estava à ida, mas a luz era tão intensa e as cores superficiais tão gritantes que mascaravam a forma principal, a causa do aroma da paixão. À vinda, sob outra luz, com menos luz, a água e a terra (num sextil de ver estrelas) revelaram-se claramente num beijo apaixonado.

Este meu passeio pelo Douro Interior chegou ao fim, mas a retrogradação de Mercúrio ainda vai bem no início! Felizmente, até dia 28 ainda há muito tempo para fazer caminhos pelo ouro interior, caminhos de volta, de regresso, percursos com menos luz ou até de olhos fechados (porque há imagens que só se revelam no escuro) e se Mercúrio está em Peixes o que conduz (pelo menos para já) é a sinestésica mistura dos sentidos. Por isso diria (se me perguntassem!) em tom de recomendação que, em caso de dúvida, é fechar os olhos e “ver” se, isso que inquieta, cheira (ou não!) ao aroma da paixão.

Mercúrio em Peixes: o rio beijou a margem

Feliz retrogradação de Mercúrio em Peixes e inspiradores passeios internos!

Lua Nova em Peixes

Amanhã dá-se a Lua Nova em Peixes. Esta lunação faz-te entrar em contacto com uma fragilidade ou dor que já não é nova.

A tua fragilidade que contactas agora, pode ser física, emocional, mental ou espiritual e tem um caracter pisciano, isto é, é imensa, é insidiosa, é difícil de analisar, impossível de controlar é subtil, quase vaga… mas, ainda que não se veja, existe… e sente-se. Sentes?

Ao nível físico pode ser sentida como uma dor ou problema persistente ainda sem diagnóstico ou tratamento eficaz (No sistema linfático? No sistema nervoso? Nos pés? Na topo da cabeça? Uma estranha alergia? Ossos fracos?…).

Ao nível emocional pode ser vivida como a dor de um coração que não se liga a outro, que se sente sozinho (porque rejeita ou é rejeitado) que está perdido.

Ao nível mental pode ser a constatação de que se é demasiado idealista, desligado da realidade e dos factos, utópico, nada prático…

… e ao nível espiritual (sei lá eu!) pode ser a dor de quem se sente insignificante ou esquecido por Deus, incapaz de elevar a sua vibração o suficiente para sentir que está verdadeiramente à altura do Serviço que lhe coube e que é digno, nobre, fonte de Graça para todos.

A grande bênção desta lunação é que, ao mesmo tempo que nos põe em contacto com essa fragilidade ou dor (cada um terá a sua), dá-nos a oportunidade de iniciar, retomar ou concluir um processo de cura. Sim, um processo de cura acelerada e facilitada (é que já não há paciência para esta p0rr@!). Cura!

A cura, que esta lunação evoca, tem um método: requer antes de mais uma decisão pela direcção a seguir e também algum tipo de sacrifício (talvez o sacrifício de todas as outras direcções que não são para seguir agora). Regra geral não gostamos de fazer sacrifícios, principalmente se ninguém estiver ali a reconhecê-los e a aplaudi-los, mas este sacrifício tem muito de silencioso, secreto não é para ser escancarado. Qual é o sacrifício que a vida te pede agora para que te cures da tua fragilidade?

Para além de uma decisão sobre a direcção a tomar e o sacrifício a fazer, o método implica também forte auto-controlo e presença de espírito de modo a garantires que te mantens no processo de cura, custe o que custar (é preciso esforço). Em vez de fugires do desconforto, parece que agora é muito mais útil dares um passo atrás e manteres-te no “fogo” que o processo provoca, pois é com esse calor ardente que a Vida pode cozinhar uma versão melhor de ti e curar-te, se tu deixares. É que com Peixes escapar e estar ausente é fácil e (apesar de Saturno em Capricórnio) este processo de cura acelerada e facilitada não é obrigatório, é uma escolha.

Em suma: Toma atenção à tua dor ou fragilidade particular, recorda as opções no teu caminho e escolhe uma direcção a seguir. Faz o sacrifício necessário. Não fujas da dor e mantém-te presente no processo de cura, ainda que este seja um lugar estranho e (para já) desconfortável. Esforça-te. A promessa é a cura acelerada e facilitada, chave de uma profunda libertação.

 

Nota 1: para astro-curiosos estas são as observações astrológicas que levaram a esta interpretação: Lua Nova no último decanato de Peixes, no grau 26 (“The harvest moon illumines a clear autumnal sky”), no duad de Capricórnio (sistema, método). Conjunção com Quíron (dor/cura), quadratura com Marte em Sagitário (pressão para escolher uma direcção e ser missionário) e semi-sextil a Urano (intuir a urgência para decidir e avançar, arriscar). Trígono (harmonização que facilita) com Júpiter (o que salva) retrógrado (interiorização) em Escorpião (transformação, profundo) que é um dos dispositor da lunação. Neptuno, o outro dispositor da lunação, porque está em regência (puro, forte e autónomo), torna a lunação mais impactante.

Nota 2: Se tiveres algum ponto importante do teu mapa no grau 26 de Peixes (ou ali muito perto) então é natural que este mês seja particularmente importante para ti no teu processo de desenvolvimento e que sintas esta lunação com maior intensidade do que os outros.

Nota 3: A ti, que tiveste a paciência de ler isto tudo até ao fim, o meu agradecimento pela dedicação. Se te fizer sentido, se achares que pode ser útil a mais alguém, ajuda-me a partilhar.

 

Feliz Lua Nova de Peixes!