– Inês, explicas-me o CICLO de LUNAÇÃO como se eu fosse… um cozinheiro? (Uma pergunta que nenhum aluno me fez (talvez porque nenhum seja cozinheiro), mas que se me fizesse eu teria a resposta pronta. Não que eu perceba alguma coisa de cozinha, mas foi o que me ocorreu.)
– Ok, se tu fosses um cozinheiro, o ciclo de lunação poder-se-ia traduzir assim:
Lua Nova: Dás por ti e estás à porta de uma cozinha. Nas tuas mãos encontras um avental, sentes o impulso de o vestir e é isso mesmo que fazes. Ainda não sabes que és um cozinheiro mas sentes que estás ali para fazer alguma coisa e desejas entrar em acção rapidamente. Sem uma intenção clara e imbuído da tua própria subjectividade inconsciente, avanças com energia e determinação para alcançares a colher de pau pousada na bancada. Depois logo se verá o que acontece.
Fase Crescente: Começas a abrir os armários e gavetas, provas um bocadinho de cada um dos ingredientes que encontras. Testas os diversos utensílios que vais encontrando e naturalmente cortas-te e magoas-te com alguns, porque ainda não estás muito habituado ao ambiente de cozinha, mas aos poucos vais ganhando segurança, rapidez e agilidade neste cenário. A certa altura, descobres, no topo de uma estante, um gigantesco livro de receitas. Depois de o folheares e leres todo com muito interesse, tens a brilhante ideia de experimentar elaborar um prato!
1º Quarto (quarto crescente): Hesitas um pouco entre seguir uma receita antiga já testada e validade pelas grandes referências do passado ou inventar um prato novo, da tua autoria. Com sorte, percebes que este é o teu momento criativo! Deixas para trás o livro de receitas (que foi óptimo para te dar muitas noções e ideias) e lanças-te furiosamente às facas, tábuas, legumes e panelas com toda a entrega, imaginação e paixão. Tu não sabes se conseguirás cozinhar e às vezes sentes-te pequeno para tamanha empreitada (porque não tens experiência e de momento parece que não tens apoio), mas este processo mágico de criação só pode ser feito assim, de forma inocente, e só pode ser feito por ti, à tua maneira.
Fase Gibosa: O prato está quase pronto. Começas a ter a consciência de que a tua obra gastronómica não é apenas um exercício criativo – é um processo meio “Zen” de aperfeiçoamento pessoal e tem como propósito ser servida para alimentar pessoas. Sentes a responsabilidade de aprimorar a tua criação e por isso provas, irritas-te com a sensação de uma certa incompletude e por isso consultas novamente o livro antigo de receitas e acrescentas umas ervas especiais para tornar o prato mais nutritivo e com um sabor ainda melhor, dás os últimos retoques (que demoram eternidades) e começas a empratar da forma mais eficiente e harmoniosa que consegues.
Lua Cheia: “Et voilá”! Depois de um longo percurso no qual vestiste um avental, experimentaste e exploraste o ambiente da cozinha, deixaste para trás as referências do passado e inventaste um novo prato, aprimoraste o prato e preparaste-o para dar aos outros…. Finalmente, vês que a tua criação está pronta para ser apresentada e servida ao mundo: tu realizaste algo! Então sais da cozinha todo inchado e levas os pratos bonitos ao encontro dos convidados que aguardam na sala de jantar. Por momentos acreditas que já fizeste tudo, que acabou a tua tarefa; mas à medida que serves as pessoas, vais-te apercebendo das suas reacções e recebendo feedback e a tua percepção abre-se a outras perspectivas, ganhas uma nova consciência de ti, dos outros, da tua obra e da vida. Então compreendes que a tua história na cozinha ainda vai a meio.
Fase disseminadora: Todos compartilham a refeição que preparaste e deliciam-se em ambiente de festa, fazendo os reparos necessários à tua regulação. Percebes então que cozinhar os teus próprios pratos faz sentido e sentes que o que cozinhas pode e deve ser servido a muito mais pessoas, bastando para tal que invistas, que abras os teus horizontes, que te continues a aventurar e a expor. Pensas: “Talvez deva aprender seriamente sobre cozinha! Ou talvez me candidate a cozinheiro de um grande restaurante ou então talvez abra o meu próprio negócio!”. Estás tão entusiasmado e convicto da nobreza do teu caminho que de facto cresces e no processo ainda inicias um movimento de divulgação de culinária mais saudável e sem crueldade animal e dispões-te também a ensinar a arte de cozinhar com alma.
3º Quarto (quarto minguante): A fase criativa e entusiasta ficou para trás e agora trabalhas de forma rigorosa e disciplinada para gerir com eficiência o restaurante e a escola de culinária – isto porque o que te importa neste momento é ter resultados materiais e contribuir de forma concreta e madura para a comunidade (muitas vezes à custa da tua vida pessoal). Desejas também ser visto como uma referência no universo da gastronomia e na medida em que te entregas às tuas responsabilidades e consolidas as conquistas que fizeste é assim que naturalmente és visto. Já não és um cozinheiro, és um verdadeiro Chef(e), um chef de sucesso e isso é o pináculo no universo da cozinha. Tiras o máximo de proveito deste teu novo estatuto e sentes o sabor da vitória pessoal. Sabe bem mas também é solitário. A certa altura, começas a suspeitar que, se isto é o máximo que podes atingir, então, se calhar nada de realmente novo vai nascer daqui e além disso, se a realização profissional sabe bem, esse sabor deve ser sentido também por outros cozinheiros. Então consideras (e eventualmente decides) fazer uma mudança fundamental de direcção na gestão da esfera profissional no sentido de contribuires para o sucesso dos outros (já não é só o teu) e teres mais tempo para ti, para te nutrires por dentro.
Fase Balsâmica: Voltas à cozinha e na habilidade da tua entrega movimentas-te de forma quase invisível e intuitiva, facilitando todas as tarefas a todos. A certa altura, em silêncio, observas o perfeito funcionamento de tudo, entre vozes, fogões, tachos e muitos vapores de água. Cais numa certa nostalgia ao recordares que tudo começou ali, só com um avental na mão, sem planos, nem certezas. Vês como hoje a cozinha funciona perfeitamente bem: os funcionários mais antigos conduzem tudo com seriedade e os estagiários tímidos têm nos olhos o brilho dos génios. Sabes que fizeste um bom trabalho e sentes que o teu lugar já não é ali, apesar de ainda não saberes para onde vais. Num misto de satisfação, ansiedade e confusão, deixas-te guiar pelo aparente absurdo e rendes-te: vais abandonar a cozinha e uma parte do teu “ego”. Então, discretamente despes o teu avental impecavelmente limpo mas muito gasto e entregas na mão de um miúdo assarapantado que estava mesmo a chegar. Fechas lentamente os olhos e confias que quando os voltares a abrir será Lua Nova noutro lugar.
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Eu nasci na lua crescente que é uma fase de curiosidade, de incerteza e de experimentação. Qual a fase da lua no teu mapa astrológico de nascimento? Que etapa deste movimento cíclico e eterno ressoa mais com a história genérica da tua vida? E neste momento, em que fase do ciclo está a tua lua progredida?
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