Mágua com Gás – Eclipse do Sol em Caranguejo

Durante esta noite de Lua Nova, no grau 20 de Caranguejo, vai dar-se um eclipse parcial do Sol.

Porque gostas de consagrar os momentos de lunação, esta noite, decides ficar sozinha. Vais para casa e quando entras, para teu espanto, encontras à tua espera o teu barman interno. Em cima do balcão do teu mini-bar, uma garrafa de MÁGUA COM GÁS.

O barman olha para ti com um olhar penetrante e irresistível e diz com voz grave e levemente rouca: “Toma, hoje vais ter que a beber”.

Incapaz de lhe responder verbalmente, de peito desgastado com tudo o que tens passado nas últimas semanas, rendes-te completamente à força da sua presença intensa (e até opressiva) e, como quem obedece a um comando, aproximas-te da tua garrafa de MÁGUA COM GÁS.

Ele desarrolha a garrafa num só gesto que faz de imediato soltar o cheiro nauseabundo daquela “mágua” que chega até ti e te faz chorar de medo do desgosto que já estás a sentir na boca e em todo o corpo.

À medida que ele verte o líquido turvo sobre o copo com toda a arte de quem sabe fazer sofrer, vêm-te à memória as tuas inseguranças, ressentimentos, tristezas e toda a espécie de emoções não resolvidas, mais recentes ou mais antigas, e então ele diz: “Agora bebe, bebé!”

Fechas os olhos, caem as grossas lágrimas que estavam sustidas entre as pestanas e ainda antes de poderes dar um soluço choroso já ele te fez descer impiedosamente garganta abaixo a tua MÁGUA COM GÁS que estava à tua espera para ser digerida.

As luzes desaparecem por uns instantes e parece-te que morres por dentro do desgosto amargo daquela MÁGUA COM GÁS fedorenta. Mas não. Abres os olhos e começas uma má e dura digestão!

O barman sexy e perverso já lá não está e no lugar dele vês o teu curador profissional preferido que abre os braços em forma de serpentes para te abraçar, conter e proteger enquanto choras, vomitas, esperneias e gritas como uma criança que sente, como a criança que és.

Ficam juntos assim, umas horas nisto, até que, depois de libertares todas as águas e todas as mágoas de todas as formas que havia por expressar, adormeces exausta nos braços do curador que sibilando de orgulho e respeito pelo teu trabalho interno te observa e protege durante toda a noite, até as luzes voltarem a iluminar o céu.

Quando dás por ti, acordaste super leve e sentes-te inocente – é um novo dia. Na mesa de cabeceira um papel em branco para escreveres ou desenhares o que quiseres e por cima dele um novo copo, agora, de água fresca, pura e hidratante mesmo a calhar para saciar a tua renovada sede devida!

Feliz Lua Nova! <3

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