Lua Nova em Escorpião – do confronto ao Poder

Esta manhã, deu-se a Lua Nova no grau 26 de Escorpião. A ausência da Luz lunar em qualquer lua nova abre as portas para a criatividade, subjectividade impulsiva e para o mistério e, a meu ver, a Lua Nova de Escorpião (que ocorre todos os anos por esta altura) é de todas a mais interessante, já que o simbolismo de Escorpião reforça a nota convulsiva de magia e de intensidade.

Esta lunação parece-me extremamente interessante pela oportunidade de transformação pessoal e a possibilidade (acredito que para poucos de nós) de promover um aprofundamento curador ao nível da intimidade.

Aos meus olhos, é como se estivéssemos a ser violentamente puxados para dentro de nós, para uma profunda e importante transformação pessoal que se dará através de processos de confronto, discussão, de conflito ou de lutas pelo controlo por medo de sermos vítimas de aprisionamento, de asfixia ou de abuso [Marte em Balança em quadratura com Plutão em Capricórnio como dispositores do Sol e da Lua em Escorpião].

Estes processos tensos e desagradáveis de discussão, mais ou menos claros e assumidos, mostram que uma importante relação (íntima, profissional, social…) atingiu de certa forma um clímax, ou seja, deu já os frutos que tinha a dar [quadratura minguante]. É, portanto, crucial para o desenvolvimento futuro das partes envolvidas que se opere uma mudança substancial na relação. Esta mudança pode traduzir-se quer no iniciar de uma fase de despedida (com corte mais ou menos doloroso) quer no iniciar de uma fase de amadurecimento e aprofundamento do relacionamento (não só através da exposição segura e mútua da sombra mas também com o planeamento estratégico de um propósito novo para essa relação – já que o propósito anterior se esgotou).

O ego [Marte] quer sempre ganhar e sobreviver mas, às vezes (principalmente se Marte estiver em Balança em quadratura com Plutão) vale bem a pena desistir da vitória individual e trabalhar conjuntamente no sentido do empate que agrada a ambas as almas, que ganham juntas (ou separadas). Então, há nesta lunação o perigo de nos deixarmos conduzir mais ou menos inconscientemente pelo desejo cego de levarmos a nossa avante e ganharmos a taça a qualquer preço.

Parece-me, assim, que o mais importante nesta fase de negociação (independentemente do resultado prático ser corte ou aprofundamento) é redobrar a atenção sobre os impulsos internos que nascem do medo, num processo de autocontrolo e autovigilância, reflectindo mais (muito mais!) antes de nos manifestarmos de modo a evitar as reações automáticas (quase inconscientes) de competição, de vingança, de manipulação e de destruição [Marte em Balança, quadratura minguante com Plutão]. Não digo que a ideia seja suprimir a vontade própria ou a espontaneidade, mas sim que é necessário observarmos e investigarmos com devotado interesse e maturidade as motivações ocultas por detrás dos nossos próprios actos impulsivos e implacáveis e moderá-las [Marte em Balança], assumindo a nossa parte de responsabilidade pelo ponto a que se chegou. Idealmente, se se trata de uma relação íntima de amor haverá com certeza o espaço e a confiança necessária para partilhar o nosso lado negro e magoado (sem medo de sermos logo abandonados), mostrando ao outro onde nos dói e como e porquê nos estamos a sentir intimidados.

Dá trabalho e é pouco agradável (para usar o eufemismo), mas este processo de debate, confronto ou conflito é exactamente o que nos permite abrir um importante alçapão interior onde se encontra a chave para o reconhecimento e a cura [Lua Nova trígono a Quíron] de algumas partes ainda não amadas e por isso mesmo amedrontadas em nós.

Saturno e Urano em trígono em signos de fogo, fazem, respectivamente um semi-sextil e quincôncio com a Lua Nova e, para mim, isto é simplesmente a indicação de que se não sucumbirmos à tentação de ignorar o convite ao confronto, se não fecharmos os olhos aos monstrinhos feios e mal amados que vivem dentro de nós e nos entregarmos então à tarefa árdua de fazer importantes ajustes para a mudança estrutural do relacionamento íntimo connosco e com o outro, então despoletamos um fabuloso fluxo criativo na nossa vida, com o qual provavelmente não contávamos e que se transforma em fonte de um novo e verdadeiro Poder pessoal.

Júpiter em Escorpião

Júpiter em Escorpião (submundo, intimidade, mistério, poder)

Sempre que um planeta muda de signo, a vida faz-nos uma nova proposta. É como se o planeta fosse uma espécie de voz da consciência com um intuito específico e o signo fosse o assunto ou o tipo de mensagem que a voz nos traz aos ouvidos.

Há umas semanas atrás (mais concretamente a 10 de Outubro – tchiii, já lá vai um mês) Júpiter entrou em Escorpião e em Escorpião continuará até 8 Novembro de 2018. São, portanto, mais 12 meses em que Júpiter (o nosso guru interior) nos falará ao ouvido, num tom escorpiónico, a cada instante relembrando o seu convite a quem o quiser escutar, aceitar e responder.

Aos meus olhos (ou ouvidos) o resumo do convite de Júpiter em Escorpião é o seguinte:

“ Explora o teu submundo, aventura-te na intimidade, abre-te ao mistério e desenvolve o teu poder!”

Submundo, intimidade, mistério e poder são para mim as 4 palavras-chave nas quais arrumo e agrupo o essencial de escorpião.

Júpiter expande tudo em que toca e, em Escorpião, são (a meu ver) estes os principais assuntos que serão ampliados nas nossas vidas de modo a promover o nosso crescimento pessoal:

  • Submundo – como inconsciente, profundidade, recalcamentos, impulsos, desejos, obsessões, instinto, traumas, mágoas, sombra, pecados, medos, tabus, “lixo”, potencial, tesouros, etc.;
  • Intimidade – na formas de “casamento”, parceria, partilha, privacidade, exposição da vulnerabilidade, emoção intensa, paixão, fusão, sexualidade, orgasmo, alquimia, linhagem genética, segredos, traição, etc.;
  • Mistério – na forma de magia, transformação, morte, cura, regeneração, iniciação, esoterismo, xamanismo, hermetismo, etc.;
  • Poder – nas formas de criatividade, destruição, guerra, influência, controlo, manipulação, sedução, ameaça, abuso, dominação, sobrevivência, dinheiro, dívidas, investimentos, etc..

Assim, em Escorpião, Júpiter pede-nos para… :

  • … arriscarmos escavar nas zonas mais escuras e desagradáveis do nosso ser, de modo a que possamos encontrar ou recuperar um pouco mais de paz de espírito, de potenciais e de tesouros/talentos (Touro – o signo oposto) que estão enterrados debaixo de grossas camadas de medo e de dor. Para tal, é possível, por exemplo que a vida nos traga memórias traumáticas, situações ou encontros com pessoas que despertam o nosso lado mais sombrio e magoado, aquele que assustado se esconde ou reage violentamente para se defender de ameaças e que se mantém em desconfiada vigilância, na tentativa de ter maior controlo sobre as circunstâncias da vida. Júpiter sugere uma expedição ao nosso submundo e aconselha-nos a baixar a guarda, a encarar o bicho papão de frente e se possível perdoar e libertar a emoção que ficou presa no momento do passado em que a “coisa” não correu bem.

 

  • … confiarmos em mergulhar mais profundamente no poço da intimidade. Isto implica, creio, desenvolver a capacidade de nos vulnerabilizarmos: primeiro, perante nós mesmos, reconhecendo e aceitando o que transportamos dentro de nós, no coração (“in-timo”) e no sangue, sejam feridas muito antigas onde não queremos tocar, sejam as nossas motivações mais profundas e fortes, as nossas paixões; depois perante aquele ou aqueles outros com quem temos a oportunidade e a sorte de partilhar o que somos e o que temos. É então possível que a vida nos coloque o desafio de ter que ultrapassar obstáculos de vergonha, de culpa, de posse e de medo de traição, exacerbando as nossas emoções no processo. Talvez seja oportuno libertarmo-nos de um velho segredo fazendo dele um “lugar comum”, enquanto simultaneamente desenvolvemos um novo conceito de privacidade e descobrimos formas mais abrangentes e libertadoras de sexualidade, de entrega e de fusão.

 

  • … nos abrirmos aos mistérios da vida para desenvolver sabedoria sobre as leis essenciais da vida e da morte. Durante o trânsito de Júpiter em Escorpião, talvez nos vejamos envolvidos nalguma forma de rito de passagem, entre mundos, entre aquilo que já não somos e aquilo em que ainda não nos transformamos totalmente. Talvez nos sintamos mais motivados a ir além das aparências e do óbvio, a ir além das soluções rápidas empacotadas em embalagens modernas de abertura fácil, a querer contactar filosofias antigas, escolas de mistério e investigar conhecimentos sagrados, numa verdadeira rendição ao que é natural e essencial e procurar sentidos realmente mais profundos para as situações que experimentamos e com esse novo entendimento sobre nós mesmos e sobre as leis universais transversais a todas as culturas e civilizações, conseguir operar no dia-a-dia as transformações necessárias à cura do que em nós ainda sofre, regenerando as nossas crenças e a nossa atitude e fazendo assim a magia de alterar a realidade em que vivemos.

 

  • … alargarmos a nossa visão sobre poder. Formas de aparentar poder há muitas… e nos próximos meses (à medida que nos libertamos de algum do nosso karma) lidaremos com muitas delas que mais não são do que expressões do medo como o controlo, a manipulação, a vingança, a ameaça, o abuso… são jogos para dominar ou subjugar alguém a que recorremos quando não estamos realmente conectados com aquilo que para mim (até ao momento) é o único e verdadeiro significado de poder e que é CRIATIVIDADE. Não será à toa que o símbolo de “Power” dos equipamentos eléctricos é constituído por um traço ou tronco vertical e um círculo aberto, um crescente, que o apoia e envolve em clara alusão ao pénis e à vagina, ao espermatozoide e ao óvulo, criadores de vida. Enquanto Júpiter transita por Escorpião é possível que algumas direcções em que temos caminhado cegamente e crenças tontas sob as quais nos temos orientado nos conduzam a becos escuros sem saída (“dead ends”) e a algum tipo de desespero intenso do qual nos salvamos descobrindo e explorando a raiz do nosso verdadeiro poder, a força de vida na origem de tudo: a nossa criatividade. Júpiter em Escorpião, mais do que sobreviver quer que prosperemos e nesse sentido assinalar-nos-á o caminho com visões sobre o nosso poder, isto é, sobre as nossas formas particulares e especiais de unir os elementos simples que estavam separados e assim fazer uso do nosso potencial criativo gerando filhos, soluções, obras, ideias, movimentos, grupos, arte, negócios, actividades… enfim criando, dando vida ao que antes não existia.

A viagem nas águas de Escorpião já começou, o guru inspirador estará aí sempre junto ao ouvido lembrando o convite e a missão que tens em mãos e se embarcas na aventura talvez daqui a 12 meses olhes para trás e vejas quantas mudanças extraordinárias fizeste, o quanto cresceste e o alívio que sentes por tudo que desmistificaste, partilhaste, curaste e que criaste e possas então dizer com toda a propriedade:

“Exploro o meu submundo, aventuro-me na intimidade, abro-me ao mistério e desenvolvo o meu poder!”

Próximo local de atendimento em preparação

À medida que o meu anterior local de atendimento para consultas e aulas de Astrologia vai contando os seus últimos dias de existência, vou desbravando o submundo da minha própria casa (qual Júpiter em Escorpião), corajosamente aspirando teias de aranha com a mão direita e (sabe-se lá como) “destralhando” monos e recordações de família com a mão esquerda…. e nisto abre-se o espaço e a possibilidade de explorar os velhos recursos da cave de uma forma totalmente nova (ao gosto dos trânsitos de Plutão).

Assim, entre latas de tinta branca, jornais velhos, serrotes ruidosos, chaves de fendas, lágrimas, alguma expectativa e muito suor dedico-me (finalmente), a preparar o cenário do meu próximo local de atendimento. É próximo, não só porque é o seguinte (next!) mas, principalmente porque está muito, muito perto de mim, do meu presente e do que sou intimamente (cheia de livros por ler, velharias, telas mal pintadas, escura, desarrumada, pouco visitada…).

É aqui mesmo, na minha casa, 11 degraus abaixo do piso 0, num quarto subterrâneo, no meu submundo físico, junto ao cavalete de madeira onde finjo pintar e ao piano pesado e desafinado que resistiu a várias gerações de Sousas e Bernardes de Carvalho e que ainda não sei bem tocar.

Vejo neste espaço um lugar uterino para os nossos encontros astrológicos: o chão é vermelho sangue, pela porta interior recebe o calor de uma salamandra acesa, pela porta exterior o ar húmido do mar de Leça e, se aberta, permite ver um pátio com degraus para um jardim e a caixa de escoamento das águas pluviais – simbolicamente perfeito para o novo propósito que lhe desenho.

Receber pessoas em casa, no caso clientes, deixa-me (confesso) com a ansiedade e a preocupação que tem atravessado tudo que faço pela primeira vez (Ascendente em Virgem). Mas, acredito também (porque sei que tudo que acontece comunica significado) que será a inauguração de uma fase mais profunda e íntima de trabalho com as Pessoas via Astrologia. Fase em que já não me limito a atendê-las, antes recebo-as dentro (de casa e da alma), albergo-as por hora e meia e, se houver vontade e espaço a que me recebam também,  descemos juntas até ao fundo, de degrau em degrau, até às sombras e riquezas do submundo, abrimos o livro de mistério, pintamos quadros futuristas, fazemos música alternativa, escoamos águas caídas e visualizamos jardins sob a luz da Astrologia.