Eu não ouvi a conversa, mas li-a no céu, por cima da minha cabeça. E como me roo por contar um segredo, partilho contigo este degredo:
God – Guarda, vamos a contas: quantos anos lá vão?
Guarda – …6 anos e meio, Senhor.
God – E ela tem cumprido o plano, desde então?
Guarda – … Mais ou menos…
God – Hmm… estou a ver. Raio da miúda!
Guarda – Já é uma mulher, Senhor.
God – Mm… Óptimo, nesse caso… Tira-lhe tudo.
Guarda – Como assim “tudo”..?
God – Tudo o que a impede de cumprir o plano: as sobras de dinheiro, os trabalhos da tanga que ocupam tempo e desgastam, namoricos que não acrescentam nada, persianas descidas toda a manhã, essas distracções, Guarda, essas desculpas todas! Se ela não quer a bem, quer a mal. Vamos!
Guarda – Oh senhor… coitada!
God – Coitada?? Coitadas e biscoitos é o que essa malandra anda a fazer no Verão e hoje começa o Inverno!
Guarda – Mas… assim vamos despi-la e está tanto frio…!
God – Se ela se mexer na Vida, aquece-se por dentro. Acredita e … Just do it!
Foi assim que o guarda franziu toda a expressão, como uma mãe que vela a dolorosa picada, no corpo branquinho da filha muito amada. Respirou fundo, cerrou os olhos. Carregou no botão.
No corpo magrinho da mulher assim tramada,
a certeza celular de que não se morre na picada.
E com forças motrizes vindas do mais fundo da Terra,
com um prazer redobrado por estar viva nesta era,
ganha fôlego em 3 dias neste descanso anual
antes de avançar, decidida, na escalada ritual;
porque sabe que o início vem sempre a seguir ao fim,
e agora, ao invés de perguntar, mostra:
“Este é o plano que a Vida tem para mim!”